segunda-feira, 14 de setembro de 2009

MEU AMOR FLAMEJANTE


Confesso que não sei bem de onde vem essa atração. Tentei até, inicialmente, atribuir essa paixão ao velho simbolismo do encarnado, predominante nas bandeiras que carreguei por longo tempo quando de minha militância comunista, ao que fui enveredado pelas mãos do poeta e camarada Dadá, negro complexo que carrega consigo a antítese dele mesmo na vida, na arte e na paixão. Mas não era. Percebi logo, bastou rememorar meus velhos discursos, posicionamentos, ações e gestos, hoje, lapidados pela força de um bisturi que não costuma ter compaixão de ninguém: a vida. Aquela beleza me cativa, atrai e extasia por motivo bem mais forte.

Mesmo tendo vivido, visitado e passeado nos mais diversos lugares, foi aqui, nesta Zona da Mata, que despertei para esse sentimento. Não posso também ser ingrato a ponto de dizer que fui movido ou estimulado pelas belezas naturais apenas nesta região. Beleza, afinal de contas, as vejo desde o parto, nas margens do Rio Madeira, na pequena vivência da Baixa da União e naquele que terminou por me chancelar em pseudônimo, o inesquecível bairro do Areal.

Fui atrás. Precisava saber como tinha chegado a esse ponto de admiração, atração, encantamento e até mesmo de louvor. Posso estar enganado mais uma vez, como aconteceu da primeira, quando me precipitei em chegar a uma conclusão... Sei não, acredito ter encontrado o nexo causal para tamanha atração. É bem verdade, também, que sua cor influenciou substancialmente para que isso acontecesse, lembra uma pedra preciosa de idêntica beleza: o rubi.

Eis que começa mais uma vez a temporada de florada da minha paixão. Ela vem com as primeiras águas das chuvas, ainda rompendo o calor causticante e tórrido do forte verão amazônico, que judia da terra há tempo. Brota como a agradecer a Deus pelos primeiros banhos, mostrando acanhado, porém exuberante, que Ele existe – senão como tamanha beleza? Está começando a florada dos Flamboyants. Fico bobo, “abestado”, “alezado”, completamente transformado frente a sua beleza. Na mutação dos galhos secos, começando aos poucos a receber uma folhagem esverdeada, como a anunciar a beleza vindoura. Ela surge meio acanhada, com pequenos botões vermelhos... Que de repente, não mais que de repente, toma de flores por completo toda a copa. Não há como resistir a sua beleza. É esplendoroso!

O Flamboyant é nativo de Madagascar, e adapta-se com maior facilidade em clima quente, o que lhe proporciona precoce e abundante floração. O nome pomposo vem do francês, traduzindo-se “flamejante”. Ah!... Antes que esqueça, quanto ao nexo argumentado, acredito sejam vários, além daquele que pensei ser único. Vermelho é meu sangue, é a cor da paixão, está no meu combalido Flamengo, no fogo, no Garantido, nos Diplomatas do Samba e, como não poderia deixar de ser, é usado por Xangô, que me guia. Se dele tenho alguma coisa a ver, deixo a resposta para o “poetinha”, que faria 96 anos no próximo 19 de outubro:

Eu vim de bem longe
Eu vim, nem sei mais de onde é que eu vim
Sou filho de Rei
Muito lutei pra ser o que eu sou
Eu sou negro de cor
Mas tudo é só o amor em mim
Tudo é só o amor para mim
Xangô Agodô
Hoje é tempo de amor
Hoje é tempo de dor, em mim
Xangô Agodô
Salve, Xangô, meu Rei Senhor
Salve, meu Orixá
Tem sete cores sua cor
Sete dias para gente amar
Mas amar é sofrer
Mas amar é morrer de dor
Xangô meu Senhor, saravá!
Me faça sofrer
Ah, me faça morrer
Ah, me faça morrer de amar
Xangô, meu Senhor, saravá
Xangô Agodô

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