
“Morte, minha Senhora Dona Morte,
Tão bom que deve ser o teu abraço!
Lânguido e doce como um doce laço
E, como uma raiz, sereno e forte.
Não há mal que não sare ou não conforte
Não há mal que não sare ou não conforte
Tua mão que nos guia passo a passo,
Em ti, dentro de ti, no teu regaço
Não há triste destino nem má sorte.
Dona Morte, dos dedos de veludo,
Dona Morte, dos dedos de veludo,
Fecha-me os olhos que já viram tudo!
Prende-me às asas que voaram tanto!
Vim da Moirama, sou filho de rei,
Vim da Moirama, sou filho de rei,
Má fada me encantou e aqui fiquei
À tua espera... quebra-me o encanto!”
- Não, ainda não foi desta vez que compartilhei desse lindo soneto de Florbela Espanca. Não, ainda não foi desta vez que me deixei seduzir por inteiro, por essa que a muito assusta e a outros, acreditem, encanta.
Era uma noite de sexta-feira, quase 19h, agosto, 24, quando o dia então entrava no descanso e a lua, quarto crescente, começava seu domínio sobre a noite. Uma curva, uma surpresa e o quase abraço daquele ser esguio, coberto por um manto preto e de posse de uma ferramenta utilizada na agricultura – a foice. Um provérbio africano nos ensina que “a esteira da morte está estendida em frente de todos os humanos”. Eu o sou, mas não foi desta vez que me deitei sobre ela. O medo que se abateu sobre mim naquele momento tinha um motivo forte: a Beth, mulher que amo, estava a meu lado. Essa sim, me preocupa a perda...
Mas, como dizia Schopenhauer, quem não tem medo da vida também não tem medo da morte. E a vida é coisa que muito me fascina – não obstante alguns que acreditem diferente. Assim não fosse, não passaria por tudo que passei nos últimos dois anos de minha vida, ainda acreditando naquilo que o filósofo alemão falou, quando diz que em geral, nove décimos da nossa felicidade baseiam-se exclusivamente na saúde. Com ela, tudo se transforma em fonte de prazer. Compreensível aquele pensamento, deve-se a Sócrates, pois com ele, o homem, na medida em que abandonou o fenômeno do trágico, verdadeira natureza da realidade, segundo Nietzsche, perdeu a sabedoria instintiva da arte trágica, restando apenas um aspecto da vida do espírito, o aspecto lógico-racional; faltou-lhe a visão mística, possuído que foi pelo instinto irrefreado de tudo transformar em pensamento abstrato, lógico, racional.
- Não, ainda não foi desta vez que compartilhei desse lindo soneto de Florbela Espanca. Não, ainda não foi desta vez que me deixei seduzir por inteiro, por essa que a muito assusta e a outros, acreditem, encanta.
Era uma noite de sexta-feira, quase 19h, agosto, 24, quando o dia então entrava no descanso e a lua, quarto crescente, começava seu domínio sobre a noite. Uma curva, uma surpresa e o quase abraço daquele ser esguio, coberto por um manto preto e de posse de uma ferramenta utilizada na agricultura – a foice. Um provérbio africano nos ensina que “a esteira da morte está estendida em frente de todos os humanos”. Eu o sou, mas não foi desta vez que me deitei sobre ela. O medo que se abateu sobre mim naquele momento tinha um motivo forte: a Beth, mulher que amo, estava a meu lado. Essa sim, me preocupa a perda...
Mas, como dizia Schopenhauer, quem não tem medo da vida também não tem medo da morte. E a vida é coisa que muito me fascina – não obstante alguns que acreditem diferente. Assim não fosse, não passaria por tudo que passei nos últimos dois anos de minha vida, ainda acreditando naquilo que o filósofo alemão falou, quando diz que em geral, nove décimos da nossa felicidade baseiam-se exclusivamente na saúde. Com ela, tudo se transforma em fonte de prazer. Compreensível aquele pensamento, deve-se a Sócrates, pois com ele, o homem, na medida em que abandonou o fenômeno do trágico, verdadeira natureza da realidade, segundo Nietzsche, perdeu a sabedoria instintiva da arte trágica, restando apenas um aspecto da vida do espírito, o aspecto lógico-racional; faltou-lhe a visão mística, possuído que foi pelo instinto irrefreado de tudo transformar em pensamento abstrato, lógico, racional.
O certo é que aqui estamos meus amigos, Beth e eu, muito bem vivos, graças a Deus... E ainda na busca, diariamente, de viver a vida intensamente! Finalizo compartilhando o pensamento de Arthur Schopenhauer, que dizia que geralmente "preocupamo-nos com planos e preocupações para o futuro ou também com a saudade do passado, ocupam-nos de modo tão contínuo e duradouro, que o presente quase sempre perde a sua importância e é negligenciado; no entanto, somente o presente é seguro, enquanto o futuro e mesmo o passado quase sempre são diferentes daquilo que pensamos. Sendo assim, iludimo-nos uma vida inteira. O presente constitui o cenário da nossa felicidade, mesmo se a qualquer momento se vier a transformar-se em passado e, então, tornar-se tão indiferente como se nunca tivesse existido. Onde fica, portanto, o espaço para a nossa felicidade?"